quarta-feira, 26 de outubro de 2016

E se Trump não ganhar as eleições?



8 de Novembro aproxima-se a passos largos e o mundo está em suspenso perante a assustadora pergunta: E se Trump ganhar as eleições?

Pois invertamos um bocado a linha de raciocínio, de praticamente toda a gente, e tentemos perceber algo muito simples que, embora à vista de todos, ninguém ainda viu ou quer ver. Sabemos que o desgaste dos sistemas sociais e políticos provoca o aumento dos extremismos, é a história que o ensina. Todo o sistema democrático, desde a União Europeia até aos Estados Unidos da América, está profundamente desgastado associado às crises financeiras, à constante corrupção e à incapacidade do sistema capitalista de resolver certas questões. Perante um sistema desgastado, impõem-se soluções inovadoras ou alternativas. Se o sistema americano não estivesse profundamente desgastado seria impensável que Sanders, um feroz inimigo das grandes empresas e da especulação financeira, e Trump pudessem ter o impacto que tiveram e continuam a ter. Com Sanders riscado da equação cabe a Hillary Clinton o duro papel de travar Trump. Hillary vejam só! E como é que se pretende não desgastar mais um sistema quando a melhor solução que ele tem neste momento é a total representação do que ele é e tem sido? Hillary É a candidata do sistema, ainda por cima investigada por casos de corrupção, pouca ou nenhuma capacidade terá para identificar e combater os erros do sistema.

Ora bem, se esta Hillary ganha, vence o sistema e perpetuam-se os erros do passado por pelo menos mais 4 anos (em princípio). E se há coisa que a história nos ensina é que o extremismo não cai nas urnas. Hitler esperou pacientemente para chegar o poder, Mussolini marchou sobre Roma e recebeu-o de mão beijada, a própria FN de Le Pen em França não pára de crescer a cada sufrágio. Pegando aqui no exemplo Francês, quando Le Pen (pai) abandonou a política, a extrema direita ganhou uma nova face ainda mais perigosa: Le Pen (filha) conseguiu através de um fortíssimo jogo de demagogia projetar a FN de uma maneira ainda muito difícil de analisar pois não se sabe até onde irão. E agora? E se Trump não ganhar as eleições? Quem poderá substituí-lo?

Nas suas bases de apoio está uma população profundamente mal instruída que decidiu idolatrar uma character que representa, mais do que o sonho americano, a falta de limites para a grandeza. Nada pára Trump, nem qualquer valor moral, ético, absolutamente nada trava aquele homem de dizer e fazer o que quer. Trump é a perfeita manifestação da libertinagem para a estupidez humana. Contudo se este mesmo Trump cair nas urnas, não haja dúvidas que a tendência natural para o extremismo e esta base de apoio sem limites para a ignorância e estupidez tratarão de arranjar alguém ainda mais perigoso. A isso, o sistema assistirá impávido e sem capacidade de agir. Viva o Liberalismo!

O cenário é dramático, espero que tudo isto consiga ser evitado. Pensar que não há nenhum mal que pior não possa ser é assustador. Resta-nos rezar a Deus, Alá, Buda e a todos os santinhos para que Hillary Clinton saiba fazer o que tem de ser feito. Mas acreditamos mesmo nisso? Numa coisa Trump tem razão, na situação judicial em que ela está, devia concorrer ao sistema prisional e não à Casa Branca.
Que bom pode ocorrer destas eleições nos Estados Unidos da América? Já nem sei… Ambos os cenários parecem vir dar ao mesmo, o desgaste total do sistema.
Já que Sanders foi derrotado, Entre Hillary e Trump venha o diabo e escolha!

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

O Espelho



Costumava ser
Um ser incompreendido
Sob o estandarte mais que perdido
De um existir gerado sem querer,
E entre desejar o indesejável
E prostrar ante o mundo a combater,
Via-me sozinho nesta terra
Sem quem comigo faça a paz pela guerra

O Mundo é um antro de seres quebrados
Um correrio de gente em busca e não sabe de quê,
E se no início fomos juntos, estamos separados
À vontade de uma força que ninguém vê

E sei-o porque sinto que sou de pouco nexo
Sem aquela que num espelho é o meu reflexo.

Nessa cândida manhã do despertar
O primeiro de todas as primeiras eras
Perante esse Espelho me fui vislumbrar,
Movi-me e te mexeste
Sorri e tu sorriste
E se faz o mundo sofrer, sofreste
Tanto como este
Meu ser a que te fundiste

Mas o espelho foi mais além
Do que os estados de emoção,
Dissemos as mesmas palavras
Pensadas como ninguém,
Partilhámos os mesmos pensamentos
Que só o insano tem
E vimos que o mundo é mais que momentos
Ou o estético valor para nós aquém,
O que move o mundo são inventos
Génios na alvorada por renascer.
O espelho fez-me ver
Que não estou só
Nem tu,
E se o xis marca o tesouro
Procuro um espelho no baú.



Por vezes na vida encontramos pessoas com que nos identificamos a uma dimensão quase nunca sonhada. Pessoas que pensam como nós, vivem como nós, sofrem e sorriem como nós. Aquele prazer de iniciar uma ideia e vê-la imediatamente compreendida e até completada, complementada, é difícil de descrever. Sempre admirei pessoas assim, sempre me quis rodear de quem entenda a minha estranha forma de ser, de quem veja no mundo, uma equação por resolver e saiba bem que podemos fazer muito.
Por vezes na vida encontramos pessoas incríveis, tanto que ao olhar nos olhos delas, é como se nos estivéssemos a ver a um espelho. Completamo-nos uns aos outros. 
Um mestre ensinou-me que antes de ser corpo, as nossas "almas" estavam todas unidas como um só. A vida seria portanto o separar das almas e a materialização em corpo. Por vezes reencontramos na vida, almas que estiveram juntas a nós nesse tempo e espaço passado. A ser verdade...

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Se ardo Gente Pequena



Pudesse eu voltar atrás,
Mudar o que aos outros dou
Que os afasta,
Maldição de ser como sou:
Bicho uno solitário,
Ser lunático, sem casta,
Acreditado que se integrou
Entre gente que não lhe contrasta,
E a dor que me é maior chaga
É, com as mãos que me envolvem e abraçam
Espetarem fundo a adaga.

Maldição de ser como sou,
Mas encaro esta vida de forma serena,
E todo o mal que pelo bem dou
É fogo que em seres ardidos flagrou.
Para quê estar-me entre gente pequena?
Sou quem sou,
Não vale a pena.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Para lá das Brumas

Eu vejo o que se esconde
Para lá das brumas do desconhecido
Dor sem pensar
Morte irrefletida
Os membros do muro
Fracos, desmiolados,
Sem recheio de cimento
Morrendo à noite gelados

Para lá do vasto oceano
Vejo o holocausto
Um apocalipse
Ergue-se sem resistência
Vimo-lo chegar de nossas casas
Refastelado no sofá
Lareira acesa

E continuámos sentados
Sem pensar
Até que o fogo se extinguiu
A casa desvaneceu
E sentados, o gelo corroeu a alma
E o frio quebrou-nos numa noite gelada

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

A Senha

Puxei a porta que diz empurre
E ao entrar na repartição
Retirei a senha
E aguardei o chamamento,
Pensando nesta vida que se estranha
Em que um olhar é nada,
E somos levados pelo vento
De uma nova madrugada,
Em que até o amar é cinzento.

Escrevia com a caneta escura
A secretária anafada
E uma jovem sorria
Para o ecran de telemóvel.
Estamos na bancada
A ver os outros jogar
Esse estranho jogo da vida,
E a barreira envidraçada
É como o próprio luar
Numa noite de nébula vestida.

Pisca a luz da repartição,
Escasseiam os fundos
Deste alegórico escritório,
Preparo a documentação
Que velório… de burocracia,
Amar não é ter tempo,
Amor é o tempo em si.
Pisca a luz outra vez
Brilha como brilhaste na minha vida
Doce beijo do cupido
E naquele ténue momento
Deste meu sonhar mendigo
Chamaram-me a ser atendido
E preenchi o requerimento
Pr’a poder estar contigo.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

O Fogo do Mundo

O meu coração chora
Um rio de lágrimas
Que alimenta o vasto oceano
Sempre que te vejo desolada

Nós os sábios racionais
Os fazedores da paz
Que armas de defesa temos
Quando o mundo
Eleva as baionetas
E abre fogo sobre nós?

Posso ser atingido
Jazer no campo de batalha
Sei que me reerguerei.
E se tu caíres
E não mais te levantares?
E se as feridas do fogo do mundo
Nos afastarem
Pois as tuas cicatrizes
Quebram-te o espírito e a alma,
E o vento levar com ele
As areias do teu ser
E todos os átomos que as compõem?

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Procurei

Procurei-te à noite
Sob a brisa quente de verão
Depois da tua aparição
Onde nos teus cabelos cheios de vida
Assentavas uma tiara florida
E com o teu olhar reluzente
Como a água cristalina e quente
De um paraíso sem nome
Encaravas-me resplandecente
E eu soube nesse instante
Que por ti percorreria
Do madrugar da nascente
Até aos confins do mundo.
E ao dizeres-me o teu nome
Soube por fim que decerto
Há mais vontade de te reencontrar
Do que areia no deserto
E perdi-te no mar de gente
Ou deixei que te levasses

Procurei-te à noite
Nas ruas estreitas de Armação
Sob a brisa quente de verão
E percorri as avenidas
Com o louco desejo
De rever esse olhar encantador
E tão incógnito como os lugares escondidos
Por detrás de um nevoeiro,
Caminhei de lés a lés
Com a vã esperança
De te falar mais uma vez
De trocar olhares, carícias
Ser adulto e ser criança
E nas palavras à beira-mar
Ser tudo numa só noite e mais,
Sim, sou louco
E quero ver-te sorrir
Ao ouvires estas palavras
Sabendo que são para ti

Procurei-te toda a noite
E no palpitar do coração
Escorreu-me o suor e o desespero
Nas ruas estreitas de Armação
Sob a brisa quente de verão
Ansiando que no mar de gente
Tivesse a tua aparição
Leve e encantadora
De olhares postos no meu horizonte
E nas mais noites que virão.
Percorrerei as avenidas
Que me levam aos confins do mundo
Porque vejo nos teus olhos
Únicos, doces, míticos
Que desistir é uma mágoa
Que conformar leva-me a nada
Que a memória é insuficiente
E onde quer que me leva esta estrada
Sigo-a pois ainda não te encontrei

terça-feira, 4 de outubro de 2016

A tinta e o sangue vertem dos céus

A tinta e o sangue vertem dos céus,
Percorrem os veios da montanha
E surge ao mar a paz, a guerra,
O amor, o ódio que se estranha.
A fome toma os que servem de bandeja
Os grandiosos senhores desta terra
E o poeta busca a sua pena
Enquanto o soldado ergue a espada

Fortes os viris desdenhosos
Que pisam no chão de corpos vivos
Na superfície de tudo o que existe,
E bradam apelos festivos
À pouca erudição em riste,
Como um rebanho de ovelhas brancas
E o poeta busca a sua pena
Enquanto o soldado ergue a espada

E ficam-se os génios cantando
Odes podres à crueldade,
Sob o oceano explorado de pranto;
Lágrimas fortes, corpo brando
Jaz para toda a eternidade,
Detêm-se no alto visionando
E o poeta busca a sua pena
Enquanto o soldado ergue a espada

Deus banha-os de obscurantismo
E inteira-os de servidão,
Continuam de olhos fechados
Os tirânicos filhos de Adão,
Sob o jugo da vossa mão
Em vós próprios enclausurados
E o poeta busca a sua pena
Enquanto o soldado ergue a espada

Incipientes canibais tomam a terra
E marcha o exército chicoteado
Sob o empírico chão de pregos,
Onde a esperança é sonho alucinado,
A fraternidade é visão de cegos,
A evolução é contos de um alienado,
E o poeta busca a sua pena

Enquanto o soldado ergue a espada

sábado, 6 de agosto de 2016

E a Luz Apaga-se



Cantai Rouxinóis desafinados,
 Afogai em notas musicais
 Esse sonho prostrado
 De ver no deserto algo mais
 E se é escuro tal fado
 Cessa o pranto a que cantais.

Que proclamo eu no escuro
 Sozinho à chuva, ao frio?
 Não quero pensar o futuro,
 Canta o pisco-de-peito-ruivo,
 Se há certeza que me cobriu
 São pegadas do meu uivo,
 Que olho para trás e vejo
 Que miro em frente e não desejo.

Sigo só e em frente vou,
Quiseste iluminar outros desertos,
 Uma vazia existência que te reduz
 Vai-te por esses caminhos incertos,
Não Importa
Eu sou a minha própria Luz


Nunca fui de necessitar de outras pessoas para ser feliz. As outras pessoas são um fator incontrolável e a felicidade não pode ser algo instável. Por isso, tornei-me sempre independente e algo solitário, assim consegui iluminar o meu caminho, chegar longe, perder para ganhar. Mas por vezes o que perdemos não é assim tão grande, existem ilusões que nos cobrem e nos impedem de ver a Big Picture. Espero não mais me enganar, o caminho é longo, não nos podemos desviar em obstáculos. "Pedras no caminho, guardo-as todas, um dia construirei um castelo".
Apenas gostava que as outras pessoas também acordassem para a vida, por cada passo que dão para trás, sinto que se afastam cada vez mais de mim. Espero então por quem me acompanhe.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016



Amor que te partiste
Hoje estou só eu
Deixas o nosso leito triste
E a saudade de quem tudo perdeu

À noite vem o silêncio
Fecho todas as portas
Apago todas as luzes
Tranco todas as janelas
Cerro todas as portadas

Tento sarar as cicatrizes
Pois não sei o que advirá
Desse leito onde fomos tão felizes
Hoje durmo no sofá

quinta-feira, 28 de julho de 2016

O Vazio




O que é este vazio
Onde se formam os enganos,
Onde passam os anos,
E fico-me pelo desvario?

Este vazio em que
Vagueando no meu mundo
Pelas ilusórias paisagens
Aprendo e não esqueço
Miragens serão sempre miragens

Esvazia-se o meu coração
De emoção e de esperança,
Sofri a tempestade
E quis a bonança
E foi como um trovão
Que amargurei nas noites frias,
Vendo as horas e os dias
Tornando-se num vazio

quarta-feira, 27 de julho de 2016

A Dança da Fogueira

      Um homem começou por acender a Fogueira, foi ele que começou!

Esse homem, pioneiro, Líder, começou a dançar. Dançava à volta da Fogueira enquanto a sua música entoava sobre tudo o que existia naquele pequeno universo limitado à volta da Fogueira. Tudo se centrava ali, era como se a Fogueira fosse o centro de toda a existência, não havia mais luz senão a que a Fogueira emitia. A sua luz intervalava-se, era debilitada, proporcionando uma cor acastanhada a tudo o que existia, no chão de lama, em todo aquele, acampamento? Era decerto a Fogueira o centro da existência!

A sua cor revelava-se amarelada, por vezes vermelha, nunca cores fortes, sempre claras! O Líder conservava a música e a Fogueira. Tudo parecia aliciante, todos se juntavam à sua volta e em redor da Fogueira e dançavam a sua dança como se não houvesse mais vida.

A dança do líder, a música, a luz, tudo atraía cegamente! Todos dançavam em torno da Fogueira, caminhavam em círculos em redor dela, alguns ousavam entoar a música, tudo era belo, tudo era perfeito, tudo era harmonia.
O conjunto conformava-se, a dança do Líder era a ação, a sua Fogueira, era a existência decerto! O Líder cumprira a sua obra, agora, apenas harmonizava. Cego pelo seu poder, marionetista, coordenava a sintonia à volta da Fogueira a seu bel-prazer. Seus seguidores mais fieis poderiam agora segui-lo na coordenação. No fundo, ficavam de lado e fora da Fogueira, observando atentamente a sua chama, ouvindo a música que por entre todo o conjunto entoava, e mirando os dançarinos em torno da chama.

Ouve então discórdia, um novo grupo se formou. Esta pequena associação discordava (aleatoriamente) da forma como a dança era feita, achavam que no quinto movimento da coreografia da dança, se devia estalar os dedos em vez de bater uma palma, achavam que o segundo tempo do quinto compasso da música devia ser um dó em vez de um ré. O novo grupo tinha certas ideologias que pouca diferença faziam, no entanto, os dançarinos em redor da Fogueira, achavam que tais diferenças seriam uma excelente inovação, dando assim o controle da Fogueira ao novo grupo, o velho grupo fez então oposição.

Enquanto a bela música entoava, o som dos tambores que tremiam os nossos vivos corações, os acordes dos banjos, os sopros das flautas de osso, a música era bela em todo o seu ser. Mas enquanto entoava, a harmonia era posta em causa: O velho grupo discutia com o novo grupo, os dançarinos iam concordando com as novas ideias, com as oposições, havia até dançarinos que se limitavam a prosseguir com a sua dança, como se nada mais houvesse, ausentes das logísticas da Fogueira, e quanto mais se debatia, mais a harmonia alcançada era posta em causa. Certos acordes começavam a falhar, certos passos da dança eram realizados de forma errónea, a chama ia enfraquecendo e, devido aos debates, não era, por vezes, reforçada. Tudo estava a desmoronar-se.

Era de esperar que fosse nesta altura que os dançarinos em redor da chama se manifestassem, que escolhessem um bom líder; incorruptível pelo poder das cordas que prendem as marionetas; um líder que se preocupasse em fazer única e exclusivamente, o bem para todos, não só das pessoas, mas também o bem pela harmonia da Fogueira, a chama, a vida, a existência generalizada de toda a existência deste universo… de tudo!


No entanto as pessoas não souberam escolher, continuavam a apontar estes dois líderes limitados destes dois grupos que pouca diferença faziam entre si, e quando um dos líderes se cansava, os dançarinos permaneciam no seu fraco ponto de vista sobre a Fogueira, nas suas ideias centradas, e apontavam um novo Líder, igual ao seu antecessor. A dança continuava a causar desconforto, harmonia era escassa, mas nunca um líder nomeado conseguia repor a concórdia como outrora fora, por obra apenas do acaso de ser pioneiro. Nunca mais se voltou a atingir o objetivo inicial, a chama mudara, o seu sangue era agora negro, a luz desvanecera. Havia quem soubesse a cura, tinham a solução, mas não tinham a oportunidade de a demonstrar, não eram ouvidos, era-lhes dado pouco espaço de manobra pois os líderes não queriam passar o poder para um ser sensato, o comando da Fogueira corrompia-lhes o espírito de tal forma que se esqueceram de porque o faziam, para quem o faziam, e com que objetivo, assim como olvidaram certos sentimentos, certos cheiros, certos sabores. E apesar de tudo, enquanto a Fogueira piorava a cada dia, quando um líder perdia a credibilidade, uma réplica era nomeada, e os verdadeiros eruditos perduravam na sua consciência de saber a cura, mas sem mãos para a aplicar, mãos cortadas pelos dançarinos e pelas elites e líderes.

A luz desvanecera, a chama era negra, a dança perdera o sentido.
Até que a fogueira se extinguiu.

 

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Lobo Solitário


Há um mundo lá fora
De egos odiosos, que se servem
Uns dos outros sem demora.
Cá dentro há um lobo
Que vagueia no deserto
Fugindo à agreste hora
De viver nesse mundo incerto,
E na sábia solidão
Encontra-se liberto
Do mal, da amargura,
Da tristeza em vão,
Da ignorância que é censura
À genial minoria,
De com o tempo ter a desilusão
De ver morrer um sonho que floria.
E capta nesta vivência impura
O bom e o mal de só estar,
Só quem se prende, vive em clausura,
E se o sofrer é desejar,
Não deseje ter dos outros mais que a amargura
Pois se a noite é escura
O Lobo uiva ao luar.

Acordo na manhã mais que certa
E não desejo ter
O que não me posso dar,
Quis mudar a minha essência,
Hoje não a quero perder.
Em frente segue o deserto com urgência,
Há que seguir esse caminho lendário,
E assim me vou,
Levando a cruz e o calvário
E esta certeza de que sou
E serei sempre o Lobo Solitário.




O "Lobo Solitário" é um dos remates finais do conjunto de poemas correspondentes à fase Psicadélica. Achei peculiar neste poema a sensação de um pensamento depressivo e sombrio que passa ao leitor, quando a mensagem escondida desbrava novas interpretações de coragem e felicidade e uma forma de vencer neste mundo em que vivemos. 
Este poema apresenta a tese filosófica da solidão como forma de conquista da independência emocional, com influências do pensamento budista. Deste modo para cessar o sofrimento, anula-se qualquer tipo de desejo que necessito de outras pessoas para além do sujeito poético. Ao anular esse desejo, anula-se a desilusão e o sofrimento de não termos algo que queremos.

Esta cruz que carrego, este calvário, podem ser interpretados como uma manifestação de tristeza e sofrimento, mas são parte integrante da minha pessoa. E hoje não quero perder essa essência. As pessoas vivem a sua vida como querem, eu Sou o Lobo Solitário e chegarei ao fim do Deserto 

segunda-feira, 11 de julho de 2016

A Miragem



Mata as sombras que rodeiam
A minha e a tua vida,
Estou tão sozinho neste deserto
E tu vieste como uma miragem
Prometendo bonança

Sobrevivi à sede e à fome
Foi a solidão que quase me matou,
Vi cactos desaparecer,
Alguém matou a cobra
Que me fazia companhia

E quando a miragem se foi embora
Os ventos levantaram areia
Enterrada há milhares de anos,
Prometerem-me a morte
Que nada mais restaria

Mas de alguma forma aqui estou,
Os ventos não me quebraram
E fico firme e hirto
Sozinho no deserto,
Agora e eternamente

sexta-feira, 13 de maio de 2016

A Luz



Entre as areias intermináveis
Deste exasperante deserto
Entre os mares de pranto
De um mundo sem sol
Surge a luz de um belo encanto
Em que o som de um rouxinol
Desabrocha flores em todo o recanto
E sinto-a a beijar-me por perto
Neste arenoso e morto deserto

sexta-feira, 29 de abril de 2016

O Vasto Oceano



Vasto Oceano

O que se esconde para lá
Do vasto e imenso oceano?
Onde a vista não alcança

Desilusão?
Memórias de uma vida
Preso ao passado?
Coisas do além?

Temos vivido na ilusão
De que podemos voar
Não!
Não sem asas,
Sem as fazer crescer

O rio da vida flui,
Desagua no vasto oceano
E nunca vemos o fim

Segue o percurso do vasto oceano
Ele é uma guerra mortal!
Uma batalha onde ninguém ganha

Podes seguir a maré do oceano,
Andar à deriva no rumo que te ordenam
Um rumo que não é para ti
Mas ao que te habituas,
E onde nadas regelado
Em puro sofrimento

Ou podes nadar contra a maré,
Ser um louco entre os sãos,
Abrir as portas do novo mundo
E definir a maré de um oceano onde eras nada

Podes combater tudo
Acreditar!
E verás que o vasto oceano
Torna-se maior
E a vista nada alcançará,
Mas serás livre

E por mais difícil que seja
Quebrar a maré,
A meio do vasto oceano,
No fim do teu caminho
Vais poder olhar para trás
E a vista alcançará muito mais
Do que quem seguiu a corrente!

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Quero



Quero saber quem és
Quem és tu que te anuncias
Sob os prados de rosas brancas
Entre sonhos e alegorias
A ser a verdade das fantasias?

Quero erguer-te um castelo
Construirmos um futuro
Quer ver-te como a um espelho
E no reflexo paralelo
Ver a mente brilhar no escuro

Quero amar-te eternamente
Quero um desafio para a vida
E ter a mente evoluída
Que a promessa me jurou
No nosso corpo fervente

Quero a paixão eloquente
E o teu beijar alucinante
Quero caminhar sem demora
Quero o teu amor brilhante
Agora e para sempre

quarta-feira, 20 de abril de 2016

História de Adormecer



Uma noite coube-me a mim adormecer o meu irmãozinho Mateus de 5 anos.
O miúdo pediu-me que lhe contasse uma história, ao que eu perguntei:
-Mateusinho, sobre o que é que tu queres que seja a tua história?
-Sobre Legos
Então puxei pela minha cabeça e contei a história:


Era uma vez, uma Lego maçã, a Lego maçã, vivia na Lego macieira no Lego pomar. Um dia, a Lego maçã foi colhida e foi levada para o Lego A.M. Frutas.
Então, alguém comprou a Lego maçã, e levou-a para a Lego casa. Na Lego casa, a Lego maçã foi comida pelo Lego Mateus (o meu irmão), então, a Lego maçã desceu por um tubinho que tens no Lego pescoço, até ao Lego estômago onde andou às voltas a sofrer a ação dos Legos ácidos. Depois desceu para o Lego intestino onde andou a passear como uma senhora passeia no Shopping, até que depois saiu pelo teu Lego ânus no teu Lego rabo e já não era uma Lego maçã; era um Lego Co...
-Có - (completou o Mateus, continuei este jogo de deixá-lo acabar as palavras).
Isso mesmo, era um Lego Cocó, só que depois, o Lego Mateus, puxou o Lego autoclismo, e então, o Lego Co...
-Có!
Desceu pela Lego Sa...
-Nita
Até ao Lego esgo...
-To
Até a uma Lego estação...
-de comboios
Não, de tratamento de águas residuais, uma E.T.A.R

Então lá ele andou às voltinhas, numas coisinhas. Tanto andou à volta que o Lego cocó, chegou mesmo a vomitar (ainda bem que ele não perguntou o que é que o cocó andou a vomitar. Extremamente adequado para crianças de 5 anos, não é?). 


Até que um dia, o Lego cocó conseguiu escapar da Lego E.T.A.R. Então, ele decidiu que queria conhecer o Lego mundo.
E lá foi ele a viajar por muitas cidades, visitou a Lego Paris onde comeu as Lego baguetes e os Lego croissant! Foi a Lego Los Angeles e viu as estrelas de cinema versão Lego, todas aquelas divas são, como sabemos, um osso duro de roer, neste caso um brinquedo duro de roer. Andou na Lego Grã-Bretanha, na Lego Austrália, no Lego Brasil, muitos países em Lego África, as Lego muralhas da Lego China (que não são assim tão grandes… por serem lego… mas ainda assim…).
Até quem um dia, o Lego cocó decidiu tornar-se polícia para combater o crime. Entrou então na Lego academia e formou-se com sucesso.
O Lego cocó tornou-se então polícia e cedo começou a ser muito eficaz a prender os Lego ladrões. No entanto, ninguém na Lego esquadra gostava muito dele, e sabes porquê?
- Não
Porque ele é um cocó! E cheira a cocó, como tu, não é Mateus?
- Não, tu é que cheiras a cocó. – Disse-me o meu irmão a rir feito malandro!
Ao que eu lhe disse: “Depois trato-te da saúde meu pirralhinho.”
Continuando a história… Sempre que o Lego cocó precisava de falar com um Lego colega, eles tapavam sempre o nariz para não o cheirar, e evitavam que ele lhes tocasse… porque… enfim, é nojento!
O Lego cocó ficou então muito triste. Um dia quando chegou à Lego casa, foi tomar um banho para ver se se conseguia limpar e deixar de cheirar tão mal. Mas quando entrou na banheira e começou a tomar o banho de chuveiro, a água fez com que ele se desfizesse, portanto lá foi ele pelo Lego Ca...
-no
Pelo Lego cano abai…
- Xo
Até ao Lego esgo...
-To
Até a uma estação...
-de comboios
Não, de tratamento de águas residuais, uma E.T.A.R
E lá andou mais uma vez às voltinhas, numas coisinhas. Conseguiu escapar mais uma vez. Teve de ir buscar as suas partes desfeitas e voltar a unir-se.
Percebeu então que de nada valia tentar mudar-se, ele era como era e não valia a pena lamentar-se, simplesmente tinha de aceitar isso e bom humor, face ao assunto, ajuda sempre.
Voltou então à Lego esquadra e à sua rotina. Agora sempre que alguém ficava afetado com a sua presença, ele reagia dizendo uma piada. Destruía o stress e os tabus, todos reagiam com maior positividade.
- ÓH Mano, és mesmo totó. – Disse-me o meu irmão de 5 anos – Estás para aí a divagar filosoficamente sobre a vida e as situações das dificuldades da personagem em encarar quem ele é, mas tu não entendes que ninguém quer saber disso? Eu sou um puto de 5 anos, a única coisa que eu quero saber é de ação, brincadeira, etc… estou-me a borrifar para os problemas do Lego cocó! Portanto deixa-te dessas tretas filosóficas e lições de vida, e conta-me uma história de jeito! E já! – Disse certamente o meu irmãozinho… não me olhem assim, ele disse mesmo isso, eu juro!
- Quem mais jura mais mente
Silêncio Mateus, estou a contar a história às pessoas.
- Não, não estás, estás a contar a história a mim, para eu adormecer, por isso conta lá alguma coisa de jeito!
Ok, se assim o queres, assim o vais ter:
Um dia, chegou à Lego Cidade do Lego Cocó, um Lego ladrão que era muito mau. Esse Lego ladrão começou então a fazer muito mal às Lego pessoas. Roubava as Lego lojas, pegava fogo às Lego casas, era muito mau…
O Lego cocó começou, então, a trabalhar nesse caso. Seguiu umas pistas que indicavam que o Lego Ladrão ia roubar um Lego Diamante precioso do Lego museu. Então ele preparou uma armadilha para que quando o Lego Ladrão entrasse no Lego museu e chegasse ao pé do Lego Diamante, todas as portas do Lego museu iriam trancar-se, o Lego Ladrão ficaria preso no Lego museu, e o Lego cocó iria lá e prendê-lo-ia.
Foi então que uma noite, quando o Lego cocó estava à espera no Lego museu, o alarme disparou… o Lego ladrão estava lá dentro. O Lego cocó foi então até à sala do Lego Diamante, e lá estava, o Lego ladrão, com o Lego Diamante na mão e uma Lego pistola na outra a apontar para o Lego Cocó.

- Tu vais-me deixar sair daqui, senão eu mato-te. – Disse o Lego ladrão.
- Não, não vou. Eu vou-te prender e levar-te para a prisão porque tu foste muito mau para as pessoas!
(neste momento eu estava a fazer aquelas vozes super-cliché para o meu irmão gostar muito da história
- Muahahaha, isso é que era bom. – Disse o Lego ladrão enquanto se preparava para disparar a Lego pistola. Foi nesse momento que o Lego cocó se foi aproximando do bandido, enquanto este disparava, as Lego balas passavam pelo corpo do Lego cocó e ele não se queixava. Até que o cheiro a cocó era tão intenso que o Lego ladrão se deitou no chão a gemer e rendeu-se.
As balas nada fizeram pois… porque é que eu estou a explicar isto? É óbvio… tipo, ele era um cocó, é óbvio que as balas não vão fazer nada!!!
E assim, o Lego cocó ganhou o respeito de toda a gente que passaram a admirá-lo… mas à distância… ninguém queria que ele chegasse perto, porque enfim… cheira mal!