sábado, 27 de outubro de 2018

Funeral de uma Nação

Do outro lado do oceano
Chegam novas de um país,
A glória do Império Romano
Renasce e cospe nos Direitos civis.

Tiranos ascendem ao plano mais alto,

As ruas choram o sangue da liberdade.
És a nação tomada por assalto
Por quem não tem o povo como prioridade.
As peças de um tabuleiro em movimento
Enquanto nossos gritos abafam
O relato do jogo,
Palavras leva-as o vento,
Facas jorram sangue, ateiam fogo,
E cedemos a César
O poder sobre nós próprios.

Meu império de mil jóias, 
Meu pulmão de mazela cancerígena,
Teu povo vive e morre explorado,
Tua terra não é, sequer, de seu indígena.
À noite propagam-se calúnias,
As boas intenções morrem na praia.
O esperma de Belzebu fecunda o civismo
Disfarçado de evangelho e catequismo,
Proclamam os líderes do alto das suas mansões
Para o povo explorado,
“Salvemos nossas almas
E cedamos a César
O poder dos nossos desígnios!”

Tomai todos e bebei 
O pão e o vinho do meu sangue e corpo,
Mas juro que não sei
Porque é pão que tomas e eles Porto,
Mas não, o inimigo é o gay e o aborto!
Tomai pão e circo, crentes da longa noite
E acreditai em César, filho de Deus
Seu ministro na terra será
Teu maior arrependimento antes do adeus.
A ordem mata o progresso,
Partem os negros, os hereges, os loucos,
As mulheres, os sãos, ficam-se os mudos,
César casa a morte e o silêncio
Entre espadas e escudos.
Hoje morri por pensar que estaria seguro
E cedi a César
O poder sobre o futuro.

Agora calem-se os homens 
E deixem falar quem
A liberdade, outrora, emudecia.
Que os deuses perdoem os seus crentes
E ressuscitem uma nação ao terceiro dia.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

A Solidão dos Sábio IX

IX
Entre os livros trazidos e por fazer,
Entre desertos, mares
Vulcões e glaciares,
Entre silêncios de ruídos
E entoares de palavras,
Com as terras que pela mente lavras,
Com as ideias que a razão
Presenteia a terra e o coração,
Fazes o novo mundo
Um dia de cada vez


E se está em guerra o mundo
Entrego-me a livros e flores
Contra manadas berrantes
Jaz nas palavras a salvação
E mergulhados em páginas, os sábios
Entregam-se
À solidão.



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domingo, 3 de dezembro de 2017

A Solidão dos Sábios VIII

VIII
Adeus oh cidades,
Olá oh campos verdejantes
E infinitas utopias na minha cabeça,
Embora chore ainda de saudades
Não quero que a minha alma esqueça
Os ardores que essa gente pequena
A si própria se condena


Cá deste canto do mundo
Sou eu de facto quem mais ordena
E a Grândola é vila morena.



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sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

A Solidão dos Sábios VII

VII
Tens diante de ti a derradeira escolha
Ser, entre os seres, aquele que faz Humanos,
Ser o que mata, escraviza e perpetua enganos.
Estou farto da humanidade,
Do ocidente que pisa estradas e não terra,
Esquecemo-nos que a nossa mãe não tem idade
Mas também se encerra


Não me levem convosco nessa enxurrada,
De destruição já nada
Bate essa moda de ignorar.
Propaguem pestes, inventem sidas,
Nem varíolas, malárias, tuberculoses,
Nem vacas loucas ceifam vidas
Ou são tão contagiosas
Como a mãe adotiva ignorância
Que usamos para contaminar
Todo o ser desde a tenra infância.





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segunda-feira, 27 de novembro de 2017

A Solidão dos Sábios VI

VI
É nesta derradeira manhã vespertina
Que um novo mundo meu
Encerra os horizontes de neblina,
Quanto mais fecho os olhos
Mais consigo ver,
E há uma vontade divina
Que coloca ante nós
Perguntas por responder


Dancem e cantem moçoilas e moços
Alheios do que não querem ver
Podiam ser meros desafortunados
Mas falam de não o querer.
Esfolam e matam pessoas na guerra
Em que até a paz é carnívora, assassina.
Para que simples e barato
Seja o progresso e o teu sorriso
Quantos pobres famintos não viram o paraíso?


Não me relembres mais
Sobre o preço da minha solidão,
Muito me custa mais
Condenar filhos e pais
Para ter castelos e os limitar ao pão.





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terça-feira, 21 de novembro de 2017

A Solidão dos Sábios V

V
Ai, das feridas que ainda curo
Das cicatrizes que envergo nesta subida,
Quis trepar os montes do ser humano
E caí num fosso sem saída.
Hoje remeti-me à solidão dos sábios
Para fugir à maldade e ignorância,
A vida é uma criança
Que brinca na chuva,
Pode brincar na chuva ou fugir:
Pode a chuva magoar, sofrer ou fugir;
Pode a criança brincar ou porque é chuva desistir.
Eu sou a criança que brinca na chuva sem desistir,
Eu sou a criança que na solidão não tem que fugir.




In Psicadélico
Apresentação dia 26 de novembro pelas 16 horas no Templo da Poesia em Oeiras

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

A Solidão dos Sábios IV

IV
Sentado na grama da manhã
Inspiro o ar de um mar sozinho
E tudo recai sobre este momento
Agora quero voar no meu cantinho,
Quero a luz, tenho o alento
De continuar este caminho
E medito sobre as luzes que iluminam
Ou os brilhos que leva o vento.
Sou doutro tempo
Em que os luminados chacinam
Em que a vida é não ter tempo