quarta-feira, 26 de outubro de 2016

E se Trump não ganhar as eleições?



8 de Novembro aproxima-se a passos largos e o mundo está em suspenso perante a assustadora pergunta: E se Trump ganhar as eleições?

Pois invertamos um bocado a linha de raciocínio, de praticamente toda a gente, e tentemos perceber algo muito simples que, embora à vista de todos, ninguém ainda viu ou quer ver. Sabemos que o desgaste dos sistemas sociais e políticos provoca o aumento dos extremismos, é a história que o ensina. Todo o sistema democrático, desde a União Europeia até aos Estados Unidos da América, está profundamente desgastado associado às crises financeiras, à constante corrupção e à incapacidade do sistema capitalista de resolver certas questões. Perante um sistema desgastado, impõem-se soluções inovadoras ou alternativas. Se o sistema americano não estivesse profundamente desgastado seria impensável que Sanders, um feroz inimigo das grandes empresas e da especulação financeira, e Trump pudessem ter o impacto que tiveram e continuam a ter. Com Sanders riscado da equação cabe a Hillary Clinton o duro papel de travar Trump. Hillary vejam só! E como é que se pretende não desgastar mais um sistema quando a melhor solução que ele tem neste momento é a total representação do que ele é e tem sido? Hillary É a candidata do sistema, ainda por cima investigada por casos de corrupção, pouca ou nenhuma capacidade terá para identificar e combater os erros do sistema.

Ora bem, se esta Hillary ganha, vence o sistema e perpetuam-se os erros do passado por pelo menos mais 4 anos (em princípio). E se há coisa que a história nos ensina é que o extremismo não cai nas urnas. Hitler esperou pacientemente para chegar o poder, Mussolini marchou sobre Roma e recebeu-o de mão beijada, a própria FN de Le Pen em França não pára de crescer a cada sufrágio. Pegando aqui no exemplo Francês, quando Le Pen (pai) abandonou a política, a extrema direita ganhou uma nova face ainda mais perigosa: Le Pen (filha) conseguiu através de um fortíssimo jogo de demagogia projetar a FN de uma maneira ainda muito difícil de analisar pois não se sabe até onde irão. E agora? E se Trump não ganhar as eleições? Quem poderá substituí-lo?

Nas suas bases de apoio está uma população profundamente mal instruída que decidiu idolatrar uma character que representa, mais do que o sonho americano, a falta de limites para a grandeza. Nada pára Trump, nem qualquer valor moral, ético, absolutamente nada trava aquele homem de dizer e fazer o que quer. Trump é a perfeita manifestação da libertinagem para a estupidez humana. Contudo se este mesmo Trump cair nas urnas, não haja dúvidas que a tendência natural para o extremismo e esta base de apoio sem limites para a ignorância e estupidez tratarão de arranjar alguém ainda mais perigoso. A isso, o sistema assistirá impávido e sem capacidade de agir. Viva o Liberalismo!

O cenário é dramático, espero que tudo isto consiga ser evitado. Pensar que não há nenhum mal que pior não possa ser é assustador. Resta-nos rezar a Deus, Alá, Buda e a todos os santinhos para que Hillary Clinton saiba fazer o que tem de ser feito. Mas acreditamos mesmo nisso? Numa coisa Trump tem razão, na situação judicial em que ela está, devia concorrer ao sistema prisional e não à Casa Branca.
Que bom pode ocorrer destas eleições nos Estados Unidos da América? Já nem sei… Ambos os cenários parecem vir dar ao mesmo, o desgaste total do sistema.
Já que Sanders foi derrotado, Entre Hillary e Trump venha o diabo e escolha!

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

O Espelho



Costumava ser
Um ser incompreendido
Sob o estandarte mais que perdido
De um existir gerado sem querer,
E entre desejar o indesejável
E prostrar ante o mundo a combater,
Via-me sozinho nesta terra
Sem quem comigo faça a paz pela guerra

O Mundo é um antro de seres quebrados
Um correrio de gente em busca e não sabe de quê,
E se no início fomos juntos, estamos separados
À vontade de uma força que ninguém vê

E sei-o porque sinto que sou de pouco nexo
Sem aquela que num espelho é o meu reflexo.

Nessa cândida manhã do despertar
O primeiro de todas as primeiras eras
Perante esse Espelho me fui vislumbrar,
Movi-me e te mexeste
Sorri e tu sorriste
E se faz o mundo sofrer, sofreste
Tanto como este
Meu ser a que te fundiste

Mas o espelho foi mais além
Do que os estados de emoção,
Dissemos as mesmas palavras
Pensadas como ninguém,
Partilhámos os mesmos pensamentos
Que só o insano tem
E vimos que o mundo é mais que momentos
Ou o estético valor para nós aquém,
O que move o mundo são inventos
Génios na alvorada por renascer.
O espelho fez-me ver
Que não estou só
Nem tu,
E se o xis marca o tesouro
Procuro um espelho no baú.



Por vezes na vida encontramos pessoas com que nos identificamos a uma dimensão quase nunca sonhada. Pessoas que pensam como nós, vivem como nós, sofrem e sorriem como nós. Aquele prazer de iniciar uma ideia e vê-la imediatamente compreendida e até completada, complementada, é difícil de descrever. Sempre admirei pessoas assim, sempre me quis rodear de quem entenda a minha estranha forma de ser, de quem veja no mundo, uma equação por resolver e saiba bem que podemos fazer muito.
Por vezes na vida encontramos pessoas incríveis, tanto que ao olhar nos olhos delas, é como se nos estivéssemos a ver a um espelho. Completamo-nos uns aos outros. 
Um mestre ensinou-me que antes de ser corpo, as nossas "almas" estavam todas unidas como um só. A vida seria portanto o separar das almas e a materialização em corpo. Por vezes reencontramos na vida, almas que estiveram juntas a nós nesse tempo e espaço passado. A ser verdade...

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Se ardo Gente Pequena



Pudesse eu voltar atrás,
Mudar o que aos outros dou
Que os afasta,
Maldição de ser como sou:
Bicho uno solitário,
Ser lunático, sem casta,
Acreditado que se integrou
Entre gente que não lhe contrasta,
E a dor que me é maior chaga
É, com as mãos que me envolvem e abraçam
Espetarem fundo a adaga.

Maldição de ser como sou,
Mas encaro esta vida de forma serena,
E todo o mal que pelo bem dou
É fogo que em seres ardidos flagrou.
Para quê estar-me entre gente pequena?
Sou quem sou,
Não vale a pena.

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Para lá das Brumas

Eu vejo o que se esconde
Para lá das brumas do desconhecido
Dor sem pensar
Morte irrefletida
Os membros do muro
Fracos, desmiolados,
Sem recheio de cimento
Morrendo à noite gelados

Para lá do vasto oceano
Vejo o holocausto
Um apocalipse
Ergue-se sem resistência
Vimo-lo chegar de nossas casas
Refastelado no sofá
Lareira acesa

E continuámos sentados
Sem pensar
Até que o fogo se extinguiu
A casa desvaneceu
E sentados, o gelo corroeu a alma
E o frio quebrou-nos numa noite gelada

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

A Senha

Puxei a porta que diz empurre
E ao entrar na repartição
Retirei a senha
E aguardei o chamamento,
Pensando nesta vida que se estranha
Em que um olhar é nada,
E somos levados pelo vento
De uma nova madrugada,
Em que até o amar é cinzento.

Escrevia com a caneta escura
A secretária anafada
E uma jovem sorria
Para o ecran de telemóvel.
Estamos na bancada
A ver os outros jogar
Esse estranho jogo da vida,
E a barreira envidraçada
É como o próprio luar
Numa noite de nébula vestida.

Pisca a luz da repartição,
Escasseiam os fundos
Deste alegórico escritório,
Preparo a documentação
Que velório… de burocracia,
Amar não é ter tempo,
Amor é o tempo em si.
Pisca a luz outra vez
Brilha como brilhaste na minha vida
Doce beijo do cupido
E naquele ténue momento
Deste meu sonhar mendigo
Chamaram-me a ser atendido
E preenchi o requerimento
Pr’a poder estar contigo.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

O Fogo do Mundo

O meu coração chora
Um rio de lágrimas
Que alimenta o vasto oceano
Sempre que te vejo desolada

Nós os sábios racionais
Os fazedores da paz
Que armas de defesa temos
Quando o mundo
Eleva as baionetas
E abre fogo sobre nós?

Posso ser atingido
Jazer no campo de batalha
Sei que me reerguerei.
E se tu caíres
E não mais te levantares?
E se as feridas do fogo do mundo
Nos afastarem
Pois as tuas cicatrizes
Quebram-te o espírito e a alma,
E o vento levar com ele
As areias do teu ser
E todos os átomos que as compõem?

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Procurei

Procurei-te à noite
Sob a brisa quente de verão
Depois da tua aparição
Onde nos teus cabelos cheios de vida
Assentavas uma tiara florida
E com o teu olhar reluzente
Como a água cristalina e quente
De um paraíso sem nome
Encaravas-me resplandecente
E eu soube nesse instante
Que por ti percorreria
Do madrugar da nascente
Até aos confins do mundo.
E ao dizeres-me o teu nome
Soube por fim que decerto
Há mais vontade de te reencontrar
Do que areia no deserto
E perdi-te no mar de gente
Ou deixei que te levasses

Procurei-te à noite
Nas ruas estreitas de Armação
Sob a brisa quente de verão
E percorri as avenidas
Com o louco desejo
De rever esse olhar encantador
E tão incógnito como os lugares escondidos
Por detrás de um nevoeiro,
Caminhei de lés a lés
Com a vã esperança
De te falar mais uma vez
De trocar olhares, carícias
Ser adulto e ser criança
E nas palavras à beira-mar
Ser tudo numa só noite e mais,
Sim, sou louco
E quero ver-te sorrir
Ao ouvires estas palavras
Sabendo que são para ti

Procurei-te toda a noite
E no palpitar do coração
Escorreu-me o suor e o desespero
Nas ruas estreitas de Armação
Sob a brisa quente de verão
Ansiando que no mar de gente
Tivesse a tua aparição
Leve e encantadora
De olhares postos no meu horizonte
E nas mais noites que virão.
Percorrerei as avenidas
Que me levam aos confins do mundo
Porque vejo nos teus olhos
Únicos, doces, míticos
Que desistir é uma mágoa
Que conformar leva-me a nada
Que a memória é insuficiente
E onde quer que me leva esta estrada
Sigo-a pois ainda não te encontrei

terça-feira, 4 de outubro de 2016

A tinta e o sangue vertem dos céus

A tinta e o sangue vertem dos céus,
Percorrem os veios da montanha
E surge ao mar a paz, a guerra,
O amor, o ódio que se estranha.
A fome toma os que servem de bandeja
Os grandiosos senhores desta terra
E o poeta busca a sua pena
Enquanto o soldado ergue a espada

Fortes os viris desdenhosos
Que pisam no chão de corpos vivos
Na superfície de tudo o que existe,
E bradam apelos festivos
À pouca erudição em riste,
Como um rebanho de ovelhas brancas
E o poeta busca a sua pena
Enquanto o soldado ergue a espada

E ficam-se os génios cantando
Odes podres à crueldade,
Sob o oceano explorado de pranto;
Lágrimas fortes, corpo brando
Jaz para toda a eternidade,
Detêm-se no alto visionando
E o poeta busca a sua pena
Enquanto o soldado ergue a espada

Deus banha-os de obscurantismo
E inteira-os de servidão,
Continuam de olhos fechados
Os tirânicos filhos de Adão,
Sob o jugo da vossa mão
Em vós próprios enclausurados
E o poeta busca a sua pena
Enquanto o soldado ergue a espada

Incipientes canibais tomam a terra
E marcha o exército chicoteado
Sob o empírico chão de pregos,
Onde a esperança é sonho alucinado,
A fraternidade é visão de cegos,
A evolução é contos de um alienado,
E o poeta busca a sua pena

Enquanto o soldado ergue a espada